sexta-feira, 13 de junho de 2008

As grandes cidades contemporâneas recolocam a questão da percepção do indivíduo. Suas megaestruturas  dizem respeito a uma escala que não é mais apreensível pela visão direta. Cria-se uma metamorfose no campo da percepção, conforme indica Nelson Brissac[1]. Os habitantes da cidade, são pequenos demais para torná-la uma só forma ou imagem que atenta para o foco do olhar.
A paisagem urbana se forma pela sobreposição contínua de objetos e imagens. O padrão tradicional das cidades modernas dá lugar à implantação das megaestruturas arquitetônicas, que trazem novos sentidos para o convívio das pessoas. Não há espaço para o feio. O indesejado é empurrado para as margens e periferias. Os locais degradados do seu centro passam por estratégias de revitalização transformam a cidade em museu, incitando ao voyeurismo e à percepção à distância. O habitante é espectador do espaço público.

Localizada na região centro-sul de Belo Horizonte, a Biblioteca Estadual Luiz de Bessa abrigou uma mostra que relaciona a experiência na galeria e a percepção da cidade. “Matriz Perdida” é uma instalação composta por 11 xilogravuras que faz uma releitura da “imagética belvederiana de desenho de paisagem”. Impressas no mais fino e translúcido papel de arroz, as xilogravuras compartilham o espaço conosco, carregando, no ar, os mais minuciosos traços da goiva sobre a matriz.
Construída em uma evolução de 11 etapas, a instalação sugere um deslocamento pelos vãos formados na passarela de vidro, onde o visitante vê a cidade representada e a cidade por através dos vidros. Estabelece questões que vão além do limite daquele sítio. Os ritmos e a dinâmica de ocupação da composição de gravura remetem a localidades já visitadas e/ou freqüentadas pelo observador e a um ritmo bem conhecido para o cidadão belohorizontino.
 
A paisagem da gravura é transformada e remodelada a cada instante. Assim como a paisagem da cidade. O surgimento de novos desenhos aludem aos novos prédios que maculam o panorama visual. Grandes colunas verticais; o branco tampa o azul do céu; o concreto se interpõe ao vento; a barreira bloqueia o olhar. A paisagem ganha uma nova dinâmica.


[1] PEIXOTO, Nelson Brissac; SESC; SENAC. Intervenções urbanas: arte/cidade. São Paulo: SESC: SENAC, 2002. 375p.

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